Dentro da Segunda Temporada de The Mandalorian

A sensação de Star Wars indicada para os Emmy's retorna com uma nova galáxia de aventuras - e a maior estrela de 40 centímetros da TV.

De alguma forma, Baby Yoda estava na França - essa foi a maior dica.

Era Dezembro de 2019. The Mandalorian estava no ar por mais ou menos um mês no nascente serviço de streaming Disney+ quando o produtor Jon Favreau viu uma foto online de um mural grande do outro lado do miundo. A arte de rua mostrava o personagem sensitivo à Força de olhos grandes olhando solenemente embaixo de uma ponte. Aquele foi o momento, Favreau diz, quando ele percebeu que sua série estava se tornando um fenômeno: The Mandalorian ainda não havia ido ao ar na França - ou em qualquer lugar da Europa, para ser sincero.

"A série não estava lá!" Favreau diz. "Algo estava acontecendo que permitia que as pessoas conectassem com os personagens através das redes sociais que os permitia ver aspectos da série antes mesmo deles saberem o que era."

Baby Yoda - o que a Disney, sem sucesso, tenta até hoje persuadir o mundo de chamar de Criança, já que seus pais atuais são desconhecidos e a espécie é considerada rara e misteriosa - foi somente uma parte da febre. Depois de um conjunto de filmes Star Wars recentes serem recebidos com reações de fãs que foram desde "Ei, bem legal" (O Despertar da Força, 2015) até "Por que isso?" (Solo: Uma História Star Wars, 2018), a pontuação de audiência no Rotten Tomatoes para The Mandalorian (93%) foi maior do que qualquer título em live-action de Star Wars desde a aclamada trilogia original de George Lucas. A série também ganhou 15 indicações ao Emmy em Julho, incluindo uma referência à Série de Drama que se destacou, uma façanha que chocou pessoas de dentro da indústria. Nada mal para uma série sobre um herói cuja face você não pode ver (Pedro Pascal) que faz dupla com uma criança que não fala.

Favreau, que também ajudou a lançar o Universo Cinematográfico da Marvel com O Homem de Ferro, 2008, conseguiu injetar vida na franquia com o que vários no meio especularam que ia sumir de existência assim como, bem, o Yoda em O Retorno de Jedi. E era uma série! A última vez que alguém havia tentado algo em live-action para Star Wars para as telinhas foi o infame Especial de Natal, 1978, um projeto que fez até mesmo o sempre calmo Lucas declarar que queria "rastrear todas as cópias e esmaga-las" com uma marreta.

Então o que The Mandalorian fez certo que os outros títulos de Star Wars não? Favreau acredita na baixa expectativa da televisão contra os filmes que o deu uma vantagem. "Eu acho que foi o fato de que era live-action de Star Wars na TV pela primeira vez," diz ele. "Tendo trabalhado em filmes maiores e mais conhecidos, há uma diferença maior de padrões pelos quais você é julgado. Nós nos beneficiamos da pequenez de nosso mundo."

Outro fator chave, diz Favreau, foi a colaboração criativa do produtor executivo Dave Filoni, que estava tendo Lucas como mentor enquanto ficava encarregado de sete temporadas da aclamada série animada Star Wars: As Guerras Clônicas. Favreau faz a maioria da escrita para The Mandalorian, trazendo seu senso de história que ele refinou ao longo dos anos ao trabalhar dentro do Universo da Marvel e em projetos da Disney, tais como O Rei Leão, enquanto Filoni o mantinha nos trilhos como árbitro do que funciona em Star Wars.

"É bem simples: nós não pensávamos demais nas coisas," diz Filoni da temporada de estreia da série, que foi inspirada pela cena de abertura de Uma Nova Esperança e comparou logo de cara com a aproximação frenética de personagens, histórias e referências que preencheram a conclusão da saga em 2019 com A Ascensão Skywalker. "George começou com esses personagens icônicos cujas relações são muito claras, e então nos introduziu ao que estava em jogo - para nós, o [destino da] a Criança, " diz Filoni. "Um público costuma gostar de uma história ao se aterem aos personagens e costumes que eles entendem - como um pistoleiro no Velho Oeste. Então, era uma história clara e uma aventura divertida até mesmo quando você nunca viu algo [dentro do universo Star Wars]."

A mente de Filoni está tão mergulhada numa galáxia tão, tão, distante, que ele frequentemente expressa seus pensamentos em metáforas de Star Wars, tal como descrever sua parceria com Favreau como "trazer o equilíbrio à Força." Favreau destrincha o processo: "Eu chego com as ideias e algumas vezes Dave diz, 'Você não pode fazer isso em Star Wars.'. Então, eu cito exemplos dos filmes, ou de As Guerras Clônicas, para tentar usar como justificativa. Eu sou como um advogado falando com um juíz; eu sou para ele o que ele era para George. Eu não farei nada sem a aprovação de Dave. E dando crédito a ele, ele entende que Star Wars tem que ser divertido e evoluir sempre."

A primeira temporada estreou o caçador de recompensas Din Djarin, um orfão criado por guerreiros Mandalorianos, enquanto ele vagava pela galáxia enquanto protegia um ser misterioso e amante de sopa, a Criança, das garras do governador que virou chefe militar do Império, Moff Gideon (Giancarlo Esposito). A temporada concluiu com o Mando embarcando em uma busca pela espécie da Criança, e Gideon foi revelado ter em sua posse a arma antiga de lâmina negra, o Sabre Negro.

Espere a Orla Exterior ficar mais povoada na segunda temporada. Enquanto a Disney ainda não confirmou nenhum membro novo ou seus personagens, há uma galeria de atores que estão sendo cotados, segundo relatos, para virem à bordo em um painel da Comic-Con: Rosario Dawson (Sin City), como a Jedi amada pelos fãs de The Clone Wars, Ahsoka Tano, Temuera Morrison (que interpretou Jango Fett nas prequels) interpretando alguma versão de um soldado clone ou o icônico caçador de recompensas Boba Fett, Katee Sackhoff (Battlestar Galactica) como uma versão em live-action da Bo-Katan Kryze, e, também, Michael Biehn (O Exterminador) e Timothy Olyphant (Justified) como personagens desconhecidos.

"Alguns deles são verdades, outros não são," diz Gina Carano, que interpreta a mercenária Cara Dune na série. Carano conta a segurança e segredos aumentados incluindo os atores tendo roteiros somente para seus próprios episódios e serem levados aos sets em mantos negros e capuzes como Lordes Sith que desejam se manter anônimos.

"A nova temporada é sobre introduzir uma história maior no mundo, " diz Favreau. "As histórias se tornam menos isoladas, mas ainda assim, cada episódio tem seu próprio sabor, e esperamos que estamos trazendo muito mais escopo à série." Filoni acrescenta, "Tudo está ficando maior, as apostas ficam mais altas, assim como a história pessoal entre O Mandaloriano e  Criança se desenvolve em uma maneira que acho que as pessoas irão gostar."

E enquanto os primeiros episódios da primeira temporada foram estritamente focados no Mando, a segunda temporada adiciona novos olhares nas histórias.  "À medida que introduzimos novos personagens, há oportunidades de seguir diferentes histórias, " diz Favreau. "O mundo estava bem interessado em Game of Thrones e como evoluía enquanto os personagens seguiam diferentes histórias - e isso é bem atrativo para mim como público."

O escopo maior foi auxiliado por ter menos custos de começar para o segundo round, o que significa que uma maior porcentagem do grande orçamento da série (estimado em $100 milhões na primeira temporada) irá para a tela. Mais uma vez, haverão oito episódios de diferentes durações ("Há provavelmente uma variação igual [na duração de episódios] esse ano," nota Favreau), e os diretores incluem Rick Famuyiwa, que reprisa, Carl Weathers (Greef Karga), o novato à franquia Robert Rodrigues (Alita: Anjo de Batalha), e, pela primeira vez, o próprio Favreau, que comandou a estreia da temporada, vindo em 30 de outubro.

Enquanto o Mando e a Criança continuam com sua missão, esperem o caçador de recompensas enfrentar uma série de obstáculos que vão desafiar mais ainda sua lealdade paterna à sua guarda. "Nós começamos bem diretamente após a primeira [temporada] e ele está indo para um território muito perigoso," diz Pascal. "Ele é como um passageiro para a experiência de jeitos inesperados - não sabendo o que virá, não sabendo muito o que fazer ou qual a melhor maneira para proteger a Criança. Nós não sabemos o quão longe ele irá, e eles estão encontrando jeitos novos de empurrar essa ideia."

Além de usar um capacete quase todo o tempo na tela, Pascal conta que as motivações do Mando são altamente obscurecidas. "Em alguns momentos, ele está descobrindo sua resposta para a pergunta: 'o que você quer?' " O veterano de Game of Thrones conta. "Isso não está claro para ele, ou para mim." Filoni acrescenta, "Nós achamos que sabemos como os personagens irão reagir, e pode ser uma surpresa como eles reagirão."

Mando e a criança são perseguidos por Gideon, que servirá como uma fonte de tentação, na clássica tradição de vilões de Star Wars tentando atrair os heróis para caminhos mais sombrios. "Eu vou enfrentar o Mando cara-a-cara," diz Esposito, que foi nomeado por um Emmy por sua performance na primeira temporada. "É uma batalha icônica. Eu também quero desarma-lo mentalmente. Quem sabe? Talvez há uma oportunidade de fazê-lo lutar algumas batalhas para mim. Vocês podem achar que eu sou um vilão, mas eu estou tentando guardar energia e alguns poderes para um caminho que pode ser o melhor para todos. Vocês poderão ver ele sendo mais ou menos diplomático e muito manipulador."

E sobre o Sabre Negro, nos novos episódios Gideon demonstra o quão adepto ele é em usa-lo. "É tão emocionante estar em uma série onde eu visto uma capa e me amostro, e onde eu tenho um sabre de luz e realmente me amostro," diz Esposito, que também comandará "um veículo grandão, olha a dica" e passe um tempo sozinho com a Criança (a ideia de Gus Fring enfretando Baby Yoda vale totalmente o preço de admissão da segunda temporada).

A concepção loucamente brilhante da criança por parte de Favreau como um personagem chave foi uma de suas primeiras discussões com Filoni, e a ideia, em primeiro plano, parecia verdadeiramente radical e, talvez, um pouco herege. "Quando ele trouxe essa ideia de fazer essa criança e ter ela sendo algo da espécie de Yoda, eu fiquei tipo, 'Oh, isso é bem complicado, porque nunca houve isso antes de Yoda, e então houve Yaddle no Conselho Jedi. É meio que uma coisa sagrada... Nós apenas temos que ser responsáveis quando estamos contando uma história com o que estamos decidindo fazer. Os fãs querem saber coisas, mas isso é um processo calculado e uma decisão cuidadosa. Então se você contar uma boa história, a maioria das vezes eles aceitam."

Então, na segunda temporada, até mesmo em uma série cheia de celebridades talentosas, quando os convidados visitaram o set, ninguém atraia mais do que a marionete de 40 centímetros. "Na última temporada, a Criança estava no set e nós não estávamos seguros de que usaríamos muito dela - no fim das contas, usamos muito, " diz Filoni. "Mas na segunda temporada, ele era a maior coisa no set. Houve uma mudança total em relação a ele. Todo mundo gostava dele antes, mas ele não era metade da celebridade que era agora na segunda temporada. Dessa vez, ele era bem famoso." Esposito acrescenta: "Até mesmo como uma marionete, não dá para você andar direto e não cumprimentar a Criança, porque ela é bem doce e inocente."

Uma grande visita ao set da segunda temporada foi a visita de Lucas, que visitou para assistir um pouco das filmagens enquanto Filoni dirigia. Atores que trabalharam com o criador de Star Wars na trilogia original disseram que as direções mais comuns de Lucas era para que seus atores fossem "mais rápidos" e "mais intensos." Até mesmo depois de 40 anos, algumas coisas não mudaram. "Ele estava dificultando a vida de Dave sobre quantas tomadas ele estava tendo e o quão rápido ele filmava e pedia para que ele fosse mais rápido," diz Favreau. "Ele era como uma pessoa no corner de um lutador de box, mas sempre com um brilho em seus olhos."

Outras pessoas familiares como Karga também estão de voltam e o caçador de recompensas está "em uma missão para ser mais legítimo," diz Weathers. "mas eu não tenho a certeza que não há algo em sua mente que não indica que está sendo mais egoísta." Karga se aproximou mais da mercenária Cara Dune ao ponto de que eles "quase terminam as sentenças um dos outros."

Enquanto a antiga lutadora de MMA, Carano - que estreou o gênero de Drama na TV com esse papel - diz que ela está mais confiante dessa vez, explicando que ela foi ajudada por Pascal quando ele concordava em remover o capacete do Mando durante as cenas quando a câmera estava somente nela. "Eu realmente queria ver os olhos dele, o que realmente me ajudou," ela diz.

Pascal continuou a refinar sua performance do Mando, continuamente tentando descobrir o tanto que aprender com o pouco que pode fazer. "O que é uma coisa estranha de se dizer em um mundo como esse onde há muitas coisas que são maiores do que a vida," diz Pascal. "Todas essas galáxias e planetas e naves e sequências de ação e criaturas e coisas do tipo. E, ainda assim, ironicamente, o que eu acredito em termos de contar uma história, é um gesto bem pequeno, aquelas entonações específicas na voz, que o faz ser adorado. Um pouco disso vaza pelo caminho."

A filmagem da série, por sorte, encerrou apenas quatro dias antes do fechamento da indústria devido ao COVID-19 em Março. Mas o time então teve que descobrir seu processo de pós produção em um ambiente de labor extremo na era pandêmica. O maior desafio foi conseguir a trilha de Ludwig Göransson, que trabalha com uma orquestra. "Nós tivemos que ter pessoas, tanto remotamente, ou em grupos bem menores e bem distanciados uns dos outros," diz Favreau. "Eu estou ouvindo a música agora enquanto estou mixando os episódios, e é remarcável o que eles são capazes de fazer sob tais circunstâncias."

O sucesso da primeira temporada fez com que a antecipação do fandom para os novos episódios fosse extremamente alta. Se Favreau estiver correto de que The Mandalorian se beneficiou de baixas expectativas, não haverá apoio nessa linha de pensamento novamente. Ainda assim, ninguém parece preocupado. "Eu não tenho dúvidas de que os fãs vão gostar mais dessa temporada - tudo está lá, " Carano diz. "Se você é um fã de Star Wars, você verá coisas que sempre quis ver."

Ou, como Filoni, com toda sua confiança coloca em frases: "Você quer que O Império Contra-Ataca seja melhor do que Uma Nova Esperança."

Texto traduzido e adaptado da Entertainment Weekly.